Individuação
O termo individuação é um dos principais conceitos da psicologia de abordagem junguiana ou psicologia analítica. Para quem ouve pela primeira vez, pode imaginar uma relação com individualidade e egoísmo. Podemos dizer que sim, tem a ver com individualidade, mas não com egoísmo, pois não é um caminho egocêntrico.
Jung entende a individuação como a meta da existência humana. Estamos aqui para nos individuar.
Esse é um caminho que se inicia assim que nascemos e só se conclui com nossa morte. Individuar-se seria tornar-se a si mesmo, ou seja, Jung está nos falando o tempo todo sobre autoconhecimento. A individuação seria tornar-se consciente de quem você é, aquilo que é singular em ti e realizar sua história, diferenciando-se do todo.
Muito simples falar né? Mas vamos entender um pouco mais da visão psíquica de Jung para que essa individuação ocorra. Em primeiro lugar, é válido mencionar que a psique é autônoma, nosso ser sempre busca sua individuação e equilíbrio, nós não temos controle sobre nosso inconsciente e sobre o caminho que ele nos coloca, ou seja, nós somos de fato movidos por forças independentes da nossa vontade, como se houvessem forças internas maiores que nós.
Como te soa essa ideia? Às vezes é difícil de aceitar, não é mesmo?
O ser humano adora achar que está no controle, mas digamos que o primeiro passo para um caminho de autodescoberta seja encarar essa verdade. Minha consciência, aquilo que defino e reconheço como “eu” é apenas uma pequena partícula do todo que eu sou.
A partir dessa ideia, podemos entender que quanto mais eu permitir entrar em contato com esse todo e me reconhecer de outras maneiras, mais consciente estarei e portanto, menos sujeito a tais forças operantes.
Essa é a ideia básica do autoconhecimento, entrar em contato com o inconsciente, permitir-se ver aquilo que é diferente do que sua consciência ou seu ego definiram, pois a psique é dinâmica. O inconsciente se revela através da imaginação, atos falhos, sonhos, fantasias, aquelas memórias que vem do nada, sensações. Tudo aquilo que nos afeta e não sabemos o motivo, tem alguma raiz em nosso inconsciente. Em geral, nós tememos aquilo que não conhecemos e o inconsciente é isso, o desconhecido dentro de nós.
Quanto mais nos permitirmos ouvi-lo em vez de querer controlá-lo, mais ganho de consciência teremos e assim viveremos de forma mais íntegra, em contato com nossa verdade interna. E onde se encontra o ego nessa história? O ego é a estrutura que media essa relação com o inconsciente. Vamos usar uma imagem para compreender melhor. Vamos imaginar nossa psique como um prédio criado para um objetivo (caminho de individuação). O ego é como um porteiro que media/organiza as diferentes demandas dos moradores do prédio (manifestações inconscientes). Vejamos, se o porteiro decidir não ouvir mais ninguém e colocar apenas a vontade dele como se fosse o dono do prédio, teremos problemas, certo? Os moradores se revoltarão, gritarão, não deixarão ele em paz. Porém, se ele ficar quieto e cada um quiser impor sua demanda, ficará uma bagunça. Então, o ego (porteiro) precisa ser bem estruturado e estar disposto a negociar, entrar em contato com as demandas internas (moradores) para que o prédio (psique) esteja equilibrado e em harmonia.
Entendendo isso, voltamos a lembrar que o prédio foi construído para um objetivo. Vejamos, o trabalho desse porteiro ficaria muito difícil se ele não tivesse uma orientação/um objetivo maior para a organização dessas demandas. Ele é apenas um porteiro e não é fácil mediar uma série de opiniões divergentes. Aí surge uma figura fundamental de nossa psique, o self. Imaginemo-nos como um zelador. Um zelador na essência do termo, aquele que zela, que contém guardado o objetivo da construção daquele prédio. O porteiro então tem que estar sempre em contato com esse zelador, reconhecendo seu lugar e o lugar dele, para então tomar as melhores decisões.
Esse é o eixo central de nossa psique, o eixo ego-self.
O caminho de individuação passa necessariamente por esse alinhamento. O Self seria o todo em nós, nosso Eu Superior, o Divino, Deus… Existem uma série de imagens possíveis para essa instância psíquica. Podemos dizer que é aquele que sabe o caminho, que tem o mapa para nossa individuação. É o regulador psíquico, aquele que sempre vai buscar o equilíbrio.
O autoconhecimento, portanto, tem a ver com reconhecer a estreiteza de nossa consciência e o lugar de nosso ego, nos abrirmos para observar e entrar em contato com nosso inconsciente, permitindo com que nosso self seja nosso guia. Ou seja, buscando encontrar qual a nossa verdadeira vontade, para onde nossa existência busca caminhar e ouvindo nosso interior, seguir nossa jornada.
Falar sobre a teoria junguiana é sempre bastante complexo e extenso. Encerro esse texto aqui com algumas imagens e ideias do assunto, caso queira conversar, tirar dúvidas ou saber mais, estou por aqui. :)
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