Façamos um trato com o tempo

Façamos um trato com o tempo. Em primeiro lugar, compreender que ele não é linear. Aquela ideia de progresso, em que imaginávamos a vida como uma linha que sobe sempre reta precisa acabar, se quisermos entrar em contato com a verdadeira vida de nosso interior. Quando entramos em um processo terapêutico ou de autoconhecimento, abrimos a porta para o inconsciente.

Aceitamos a pequenez do nosso ego, entendemos que é uma ilusão achar que essa pequena camada é que tem o controle sobre nós e então descobrimos que as coisas não são bem como haviam nos contado.

Descobrimos que o ser humano não é o detentor do controle e da razão, aquele que tem o domínio sobre a natureza e está sempre avançando. Passamos a perceber a arrogância dessa ideia, o quanto somos parte e pequenos diante a grandeza da natureza e do universo. Isso nos leva a entrar em maior contato com o princípio feminino, que tanto foi excluído da nossa psique.

Tempo, tempo, tempo

O princípio feminino nos relembra da passividade, da receptividade, dos círculos, das mandalas. Lembramos que nós e o mundo não somos apenas caixas quadradas. Isso nos coloca mais em contato com a linguagem do inconsciente. Esta também é uma linguagem não linear, circular, imagética, podemos dizer até confusa, diante dos olhos da linearidade e da separatividade da consciência.

E quando abrimos estas portas dentro de nós começa a ficar claro que não estamos caminhando em linha reta, como se houvesse um lugar a chegar, uma corrida ou um objetivo distante. É como se tivéssemos navegando em círculos.

Tudo se repete em algum momento e quando achamos que chegamos, parece que estamos no ponto zero novamente e tudo fica um tanto confuso. Às vezes nos revoltamos ou ficamos chateados porque temos a impressão de que nada adiantou, nossa entrega, nossa busca não nos leva a lugar nenhum. Temos vontade de desistir, como se apenas não fosse possível resolver determinada questão.

Mas aí que vem o mantra inicial, relembrar do nosso trato com o tempo. Perceber o tempo muito mais como um labirinto: parece que estamos perdidos, mas quanto mais você percorre, mais você encontra.

Às vezes é preciso ir voltar, ir voltar e quando você chega perto do fim, ainda tem mais uma volta para dar e assim vai. O processo do inconsciente, o autoconhecimento, a cura, a terapia, a evolução, o ganho de consciência ou qualquer outro nome que queiramos dar, ocorre em espiral.

Sim, nós sempre nos reencontramos com os principais aspectos nossos que precisam de cura, porém, numa oitava acima. Estamos diante do mesmo problema, mas com um novo olhar, nada daquilo que houve foi perdido, é um ganho para a próxima etapa.

Então, confie que você está avançando em seu processo, só não tenha pressa. Os passinhos são realmente de formiga, pois esse é um processo de vida, não tem hora marcada, não tem tempo fechado.

É só caminhar e lembrar que a cada reencontro algo ali será diferente.