Depressão: quando o buraco é mais profundo
Falar sobre depressão neste momento parece crucial. Os números de casos aumentam a cada dia e alguns autores já falam em uma epidemia, mas o que será que nos trouxe aqui? Afinal, o que é depressão? O caminho dessa resposta tem diversas bifurcações. Poderíamos explicar quimicamente, psiquicamente ou até simbolicamente. Como toda doença mental, em que a esfera da alma é tocada, não há consenso sobre o diagnóstico ou tratamento. Aqui, farei uma elaboração da minha visão pautada na psicologia analítica. A ideia não é trazer uma resposta, mas abrir para a reflexão.
Uma primeira questão que parece vir à mente é: desde quando existe isso? Sempre estivemos depressivos? Parece uma doença relativamente atual, antes mal ouvíamos seu nome e agora todos nós conhecemos alguém que passa ou passou por um episódio. No entanto, quando falamos de doenças mentais temos que ter em mente que elas têm relação com as nomenclaturas e diagnósticos psiquiátricos que usam alguns critérios objetivos, como uma régua, para avaliar sensações subjetivas.
Assim, é sempre muito delicado fecharmos um ser humano em um diagnóstico.
Depressão deriva de depressio, deprimire do latim e podemos traduzir como afundar, apertar para baixo, como uma força externa que pressiona. E essa poderia ser a descrição de como muitos se sentem quando neste estado, para baixo, densos, pesados, sem esperança, sem forças. As pessoas sentem-se sem energia, mas na verdade, está energia não se foi. Segundo Jung, o quantum de energia que possuímos é sempre o mesmo, o que muda é como ele está distribuído, ou seja, a energia está toda voltada para baixo, para dentro. Se pensarmos na depressão a partir desse ângulo, podemos refletir que força é essa que empurra para baixo? Por quê? Para que? O que será que existe lá embaixo que é tão difícil ficar por lá?
Será que não é exatamente para termos contato que algo que mora ali embaixo?
Na psicologia analítica, entendemos o ego como uma estrutura que nos permite realizar as tarefas cotidianas, funcionar na sociedade. Ele deveria ser como um zelador que organiza o prédio, zelando para que todos que moram ali sejam ouvidos e estejam em harmonia. Estes que moram ali, seriam nossos sentimentos, impulsos, desejos, fantasias e por aí vai.
Ele é no fundo um grande mediador, mas o que acontece e tem acontecido cada vez mais é que a demanda do mundo externo começa a ser muito grande, pressionando o mundo interno. Em geral, é assim que somos ensinados a funcionar, reprimir o que temos lá dentro para alcançar as metas de sucesso na sociedade, onde as demandas apenas aumentas.
Metaforicamente, podemos imaginar que este mundo interior, cheio de complexos, sente-se então deprimido, rebaixado e por enantiodromia (força de compensação) ele começa a se manifestar até inverter o jogo.
Quanto menos ouvimos este mundo interno, mais ele vai tentando ter voz, nossos pensamentos começam a se repetir, e tudo aquilo que sentimentos e tentamos ignorar, vai falando mais alto dentro de nós. Até que chega um momento em que nos engole. Torna-se maior que nossa capacidade de funcionar e somos como que tomados e levados para um outro mundo, onde nada faz sentido. Como se este mundo interior roubasse toda a energia para si. Nos vemos alienados da própria vida, alienados do mundo exterior e em contato profundo com todas as dores que nos recusamos a ver.
A questão passa a ser então, e agora? O que fazer quando já estamos imersos em nossas dores, sem capacidade de funcionar e indiferente ao mundo que nos rodeia?
Acredito que o caminho seja entregar-se a essa profundidade, confrontar o inconsciente, como disse Jung. Olhar para essas dores, pintá-las, conversar com elas, permitir que o seu interior te conte qual é o novo caminho, por onde ele deseja ir. Porque apenas querer retomar a vida como antigamente provavelmente apenas levará para o mesmo buraco.
Acredito que a cura esteja em aceitar o momento, aceitar os seus sentimentos, aceitar quem se é de verdade.
É claro que dói, encarar nossas sombras, nossas dores, nos conhecermos verdadeiramente não é fácil. Mas mascarar essa dor e seguir em frente, só vai nos permitir conviver com ela e não encará-la. Aquele monstro estará sempre ali, à espreita. Essa é uma forma de olhar as doenças, por mais dolorosas que sejam, como detentoras de um sentido. São manifestações da nossa própria psique que nos ajudam a encontrar novamente a direção Não a direção que a sociedade nos contou e nosso ego quer afirmar, mas a verdadeira direção do nosso interior, nosso caminho de individuação.
Este caminho de volta, olhar nos olhos dos nossos monstros interiores, retomar a esperança, a vontade e o caminho precisa ser feito aos poucos, em segurança e com acompanhamento. É muito importante ter acompanhamento de um profissional para esse mergulho interno, ter alguém que esteja segurando em nossa mão, para não nos perdermos nesse emaranhado interior. Alguém que nos ajude a elaborar o que está lá dentro, que nos escute, que nos aceite, quando nem mesmo nós conseguimos nos aceitar.
Caso precise de ajuda, entre em contato, você não está sozinh@.
A depressão é também um caminho, é uma pista para voltarmos para nosso caminho de individuação.
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