Arteterapia pode ajudar a diminuir a ansiedade?
Atualizado: 15 de abr. de 2022
Escrevo este texto com a intenção de oferecer um olhar sobre a ansiedade e a arteterapia. A taxa de brasileiros diagnosticados ou que se consideram com transtorno de ansiedade no Brasil figura entre as maiores do mundo. O que já era perceptível em nossa realidade aumentou drasticamente com a pandemia. Pessoas trancadas em casa, tendo a maior parte do seu tempo voltada para telas, com medo do futuro e pouca movimentação corporal. Este é o quadro de grande parte da sociedade. Olhando de fora, não é difícil imaginar que este quadro implique na saúde mental. Tema que começou a ser levado a sério apenas há pouco tempo.
Na rotina comum, muitas pessoas acabavam por liberar suas tensões, preocupações, inseguranças e tudo que dentro delas não vai bem, fora de casa. Todas as infinitas distrações que o entretenimento propõe conseguia, em grande parte dos casos, abafar ou mesmo suprir os sentimentos indesejados. Com o rompimento com este mundo de entretenimento, muitas pessoas se viram diante de si mesmas, sem tanta possibilidade de fuga e isso trouxe novas formas de sentir que se manifestam em novos sintomas.
A ansiedade tem a ver com a atenção voltada ao futuro. Quando os sintomas se manifestam dizem respeito sempre a algo lá na frente, que pode ou não acontecer. Isso não necessariamente é consciente. Os mais diversos sintomas como, palpitação, falta de ar, irritabilidade, preocupação excessiva, dificuldades como sono, etc. ao se manifestarem nos evocam algum tipo de preocupação/pensamento/sentimento que não está visível no aqui, no agora.
Assim, entendemos que ela é desencadeada por algum fator que encontra dentro de nós todo aquele núcleo de preocupação futura. Por exemplo: alguém pode assistir um filme, em que a protagonista está escrevendo um romance e então a pessoa começa a se sentir ansiosa, aparentemente sem razão. Pode ser que ela tenha que entregar um artigo daqui um mês, que ela ainda não iniciou e então, aquela cena serviu como gatilho para ativar todo esse complexo interno de dúvidas e inseguranças de como será essa entrega.
Há sempre um gatilho no momento presente, que gera um sintoma. O que precisamos descobrir é para onde esse sintoma nos leva, ou seja, que núcleo de questões é este que eu não estou olhando, mas que sou levado a olhar, a me preocupar em momentos inoportunos e de forma desordenada. Um núcleo de questões que não estão conscientes para nós. Sendo assim, é importante conseguir voltar ao presente quando este sintoma é acionado. Voltar e compreender o que desencadeou o quadro ansioso para, aos poucos, compreender os motivos por detrás desse mecanismo.
A arte é uma forte aliada tanto para trazer a consciência de volta ao presente quanto para buscar entender o que esses sintomas querem dizer, ou seja, que movimentos inconscientes são estes. Para acalmar a ansiedade e conseguirmos relaxar há diversos materiais de arte que podem auxiliar. Cada pessoa precisa descobrir o que lhe faz bem, mas com certeza, a maior parte deles é benéfica nesse sentido.
A arte provoca maior contato com o presente, conexão com nosso centro e altera nossas sensações e percepções físicas. Dessa maneira, é possível ir trazendo nossa consciência de volta ao presente e nos sentirmos bem. Essa é uma maneira de diminuir a ansiedade, ou seja, lidar diretamente com o sintoma. Não é uma maneira de cura, mas de liberação, que se praticada constantemente, nos ajuda a viver de forma mais equilibrada.
Uma dica de material bastante rico para esse processo é a argila. O barro, tão ancestral, presente em toda a história da humanidade, é um material que permite que liberemos muita energia nele. Podemos apertar, modelar, socar, amassar... E todos esses movimentos nos ajudam a tirar a preocupação, a inquietação, toda a energia acumulada. Porém, é preciso experimentar e entender se isso faz sentido para você. Não há receita de bolo em arteterapia. Cada ser é único e é necessário se conhecer e testar diferentes possibilidades.
Para falarmos de cura da ansiedade, temos que pensar no sentido de reduzi-la ao máximo possível, de forma que a vida diária não seja perturbada, pois algum grau sempre existirá, faz parte da existência humana. Devemos torná-la então bem vinda, aprender a fazer um bom uso, pois quando equilibrada é uma proteção, é um quantum de energia para a ação. Para isso, é necessário um processo terapêutico contínuo. Para que com a ajuda de um profissional você possa olhar para todos os núcleos que incomodam de forma segura, para que possa buscar o motivo desses sintomas terem aparecido.
A arteterapia junguiana é um bom caminho, pois através das expressões artísticas podemos conversar ainda mais com o inconsciente. A linguagem do inconsciente é imagética/simbólica, assim ter esse recurso para acessá-lo permite uma grande expansão do processo interior. Somado a isso há a liberação energética que o próprio fazer artístico permite, como comentado há alguns parágrafos.
O importante é encontrar um caminho que faça sentido para você, o profissional e a linha terapêutica em que você se sinta confortável, pois todos temos o direito ao bem estar. Independente das adversidades, todos podemos viver de forma melhor, mais conectada e alegre.
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