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Afinal, quem é o ego?

  • Vivemos em uma sociedade egóica!

  • Temos que transcender o ego!

  • Você precisa ter um ego forte!

Essas são algumas afirmações que você pode já ter ouvido sobre o Ego. Vilão ou mocinho? Quem será o ego? O que afinal chamamos de ego? Quando estamos agindo a partir dessa estrutura?


Existe uma série de caminhos para essa pergunta e as respostas variam a partir de que visão de ser humano estamos falando. Quando falamos em ego, estamos falando de ser humano, do que nos constitui exclusivamente como espécie. Nenhuma outra espécie vivente em nosso planeta possui ego. Acho que esse é um primeiro passo, talvez comum à maior parte das linhagens que pensam psicologicamente, filosoficamente ou espiritualmente sobre a humanidade.


Aqui, faremos uma exposição a partir do olhar junguiano: O que é o ego dentro da visão junguiana? Como lidar com ele? O que é um ego forte?


São algumas das respostas que busco trazer neste texto. Vamos iniciar a partir do nascimento… Ao nascer a criança está imersa no inconsciente coletivo e sua psique está profundamente fundida com a da mãe. Ela ainda não tem noção de EU, de separatividade. Tudo para ela é uma mesma coisa, não tem eu e portanto, não tem outro. Ela ainda não entende que a mamãe está ocupada e precisa cuidar de si também e não só dela, para ela, a mamãe faz parte dela.


Conforme o desenvolvimento psíquico vai acontecendo, entende-se que por volta dos três anos de idade, o ego começa a se apresentar. Dentro da visão junguiana, o ego é um complexo, chamado de complexo egóico. Nós somos constituídos de diversos complexos que nos são “dados”. São desenvolvidos a partir da nossa história pessoal e da história coletiva humana, pois todos os complexos estão conectados a um arquétipo comum a toda humanidade. Bom, sendo assim, o ego é mais um dos diversos complexos que vão surgindo para nos estruturar psiquicamente.


E por que então, você poderia perguntar, se ele é só mais um complexo, por que é tão mencionado?


Porque é um complexo bastante importante, central para todo o processo psíquico. Vamos lá… A partir dos três anos a criança começa a se perceber como um EU. Pode começar usando seu próprio nome, dizendo A Mariazinha quer comer.. até chegar a palavra EU. Quando existe o eu, passa a existir o outro. A criança deixa de ser o universo todo, ela começa a se diferenciar. Existe eu e existe outro e existem as coisas e existe o mundo. Assim, ela vai criando uma noção de

separatividade e de individualidade.


Ou seja, o complexo egóico é fundamental para nossa identidade.


Ele é uma conquista psíquica que nos retira da imersão com a natureza, da participação mística, onde tudo é uno e nos coloca em contato conosco como entidade separada. A partir do momento que eu sou um indivíduo, posso construir o meu caminho, posso me autoconhecer, posso ser livre. O ego então não é mau, não é vilão, certo? Ele é extremamente importante para que possamos traçar a nossa jornada. Então, da onde vem a confusão?


Além do processo da relação primal, relação com a mãe que influencia todo esse processo de formação egóica, que não iremos abordar nesse texto, acontece que sendo tão importante, ele acaba confundindo qual o lugar dele. Ele começa a se sentir rei, onde ele é no máximo, um príncipe. A questão então não é sobre ser um benfeitor ou mal feitor, ele apenas é. A questão é que espaço que ele está ocupando?


Qual o lugar dele? Como ajudar em vez de atrapalhar?


Podemos olhar para a sociedade, pois o que está acontecendo fora é reflexo também do que acontece

peça de xadrez com coroa de rei
Quem és tu?

dentro. Dissemos que o ego é uma conquista da humanidade, a partir disso então, ela passa a valorizar demais essa conquista e se sentir talvez maior do que deveria. Por isso, fala-se em uma sociedade egóica, onde este EU é extremamente valorizado em detrimento do outro, seja outro sujeito, seja a natureza, o planeta e tudo o mais. Nesse processo o ser humano considera-se o senhor da realidade e esquece quem controla de fato sua jornada. Esquece que um vírus pode acabar com todos os seus planos, com todo o seu controle.


Isso pode acontecer também internamente, é o que chamamos de Ego Inflado. Ele se sente no poder, maior do que é, como se não houvesse outros complexos ou forças interiores. Esse é apenas um exemplo, mas vamos retornar... Afinal, qual o lugar deste complexo?


O ego tem uma função muito importante, ele é um mediador.

Ele é importante, como já dissemos, pois ele nos permite uma noção de identidade, de individualidade para que possamos traçar nossa própria jornada e não nos mesclar com a psique coletiva. O papel dele é mediar os complexos, ser uma verdadeira ponte. Há um monte de complexos em nós, um monte de personagens e o ego é aquele que organiza. Podemos fazer um exercício de imaginação, pensando-o com uma linha que conecta toda essa galera que mora em nosso interior.


Porém, ele não é o dono desses personagens, ele não dá as ordens, ele não manda.

Ele faz a ponte estando sempre a serviço. A serviço do SELF, este sim, o grande “rei” dentro da visão junguiana. O Self é nossa estrutura completa, é lá que contém todos os complexos, nosso consciente, inconsciente pessoal e coletivo. É a estrutura maior, o divino em nós, nosso guia, aquela força fundamental que contém nossa totalidade.


Um ego ideal então, um chamado ego forte, estaria profundamente alinhado com esse self, estando a serviço e organizando esses complexos para que todos tenham suas expressões, mas nenhum domine a estrutura toda.


É um ego flexível para se adaptar às situações e necessidades internas a partir dessas vontades interiores. Um ego aberto à mudança, à adaptação, fluído, mas também estruturado. Claro de si mesmo, orientado, com um bom senso de si próprio.


Isso é bastante diferente de um ego rígido, o que às vezes é confundido com força. Um ego rígido, bem fechado, que segue em frente e não olha para os lados, não é bom. É duro, não flui e sentimentos, emoções e necessidades vão sendo abafadas nesse caso. Já um ego frágil também não é interessante. Onde tudo invade a psique, a pessoa é sempre tomada por um sentimento profundo, tudo vira uma questão e ela já não consegue seguir em frente.


Um ego bom então é um ego flexível, aberto para seu mundo interior, mas também seguro de si.

A tal dissolução do ego pode ser percebida num momento de surto psíquico, quando uma série de fantasias invadem a pessoa e ela perde essa “ponte” com quem ela é, com o aqui/agora e fica imersa nesse inconsciente.


O ego é essa ponte entre o inconsciente e consciente. O inconsciente precisa ser ouvido, precisa de espaço, mas não pode dominar e invadir a consciência. A consciência não tem condições de abarcar todo o inconsciente, todo o self.


Então, precisamos sim do ego para estarmos bem psiquicamente, para fazermos as pontes entre o que sentimentos, pensamos, como nos apresentamos e assim, poder traçar nossa jornada. É como se ele fosse nosso pequeno herói ou heroína atravessando por toda sua jornada para conquistar seu tesouro. Talvez esse seja nosso processo de individuação, como chamou Jung, nosso processo de vida. Uma jornada do ego para encontrar o Self.


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